24 de fevereiro de 2012

Tacos e sangue.






Eu e meus amigos ainda podíamos ouvir o clamor dos expectadores quando o jogo acabou e ganhamos do time da casa, os Cães Raivosos.
Atravessamos o vestiário. Decidimos não trocar de roupa e continuar com o uniforme de beisebol, pois eu era a única menina do time e não poderia ficar sozinha lá fora.
Já estava escurecendo e os arredores do campo eram apenas terrenos baldios, de modo que os expectadores já tinham ido para suas casas de carro.
Eu ajeitei meu boné vermelho e branco, cantando a música da vitória, sendo acompanhada por todo o time.
Jimmy, meu irmão mais velho - e também o mais velho entre nós, procurava as chaves do carro em seu bolso, parando de andar por um segundo.
Já estávamos perto de seu automóvel quando ouvimos um baque surdo. Olhamos para trás atônitos.
Eu vi o taco de beisebol acertar-lhe bem na boca do estômago, Chuck não suportava perder a partida e naquele momento encurralava meu irmão junto com seu time.
Eu assistia àquela cena do outro lado, vendo os meninos pegar seus tacos e irem à direção dos Cães Raivosos.
Também peguei o meu e joguei meu boné no chão, mas Carl segurou meu braço e disse que eu ficaria dentro do carro, e se a coisa piorasse, mandou que eu dirigisse até encontrar a polícia.
Me empurrou e eu entrei pela janela, vendo-o correr para ajudar meu irmão, e vendo os meninos partirem para a briga.
Meus olhos estavam embaçados por causa da neblina, a noite chegava de modo rápido e eu não conseguia enxergar com muita nitidez, mas os meus ouvidos estavam funcionando perfeitamente e eu só escutava os sons de costelas e cabeças sendo arremessadas ao chão, socos sendo desferidos, dentes quebrando.
Eu sentia uma fúria inexplicável, a adrenalina subia pelas minhas veias e minha cabeça doía, meu corpo tremia e cheguei a pensar que o carro também tremia, alheio ao meu ódio. Eu tinha que ir até lá!
Peguei no banco de trás os tacos de reserva, dois seriam o suficiente, eu poderia morrer, mas também quebraria algo dos Cães Raivosos.
Saí pela janela e tentei me equilibrar com dois tacos ocupando minhas duas mãos que tremiam violentamente. Eu não gritei, mesmo quando abri a boca, não consegui gritar. E corri em direção a Chuck que chutava com muita força a barriga de meu irmão. Desferi um golpe em suas pernas, fazendo-o se ajoelhar e olhar apavorado para trás, mas não me viu, talvez pensasse que eu fosse pequena demais para lhe acertar. Isso me deixou com muito mais raiva, então bati com mais força em suas costas, assim ele se encolheu, largando meu irmão, mas eu continuei quando vi Jimmy abandonado no chão ensanguentado e inconsciente. Passei a desferir golpes seguidos em suas costas, até ouvir Chuck soltar um grito estridente, se calando em seguida. Ele não se mexia mais.
Eu olhei em volta e todos pareciam apavorados, mas não me fitavam, apenas olhavam para Chuck caído no chão.
Os rapazes dos Cães Raivosos também olhavam com medo, eu não entendia o motivo de tanta perplexidade.
Soltei os tacos no chão, vendo Carl segurar meu irmão.
Talvez jogar com aquele time não tenha sido uma boa ideia.
Andei até o carro e entrei pela janela, sentando-me no banco da frente ao lado do banco do motorista.
Ninguém havia tocado em mim, e eu jurava que era porque eu era mulher. E isso me deixava furiosa, e um pouco aliviada ao mesmo tempo, pois eles poderiam me matar só com um golpe.
Respirei fundo, meu corpo ainda vibrava.
Fechei meus olhos, e então senti algo escorrer em minha testa, toquei com a ponta do dedo e vi que era sangue, talvez alguém tenha me acertado e eu não vi, pensei.
Decidi virar o retrovisor para olhar o ferimento, mas para o meu espanto meu reflexo não estava ali, eu não aparecia, era como se eu estivesse invisível!

17 de fevereiro de 2012

Are You Gonna Be My Girl?



Meio-dia e o Centro do Rio de Janeiro parecia pegar fogo.
O cheiro de mijo ficou mais forte depois que o calor passou a ferver as poças de urina espalhadas pela cidade.
Os executivos atravessavam a passos largos a rua, entrando imediatamente em seus carros com ar condicionado, e os vendedores de picolé ganhavam uma boa grana.
Eu tentava pensar que o calor era psicológico, e me imaginava no polo norte enquanto andava o mais rápido que podia até meu trabalho.
Não almocei direito na hora do meu intervalo, e aquele deveria ser o dia mais quente da história.
Trabalhava como caixa numa loja de discos que para a minha felicidade estava com um novo ar condicionado.
Entrei na loja e em poucos minutos meu suor começou secar e me senti a salvo depois de encarar o sol de quase 50ºC lá de fora.

A música ambiente era um hit bem famoso de uma mulher que não-sei-como vendeu muitos cds e a batida era enjoada. Talvez eu devesse mudar e colocar algum disco antigo, algo bom.
Andei até a prateleira dos anos 80 quando uma garota de cabelo azul entrou na loja, dirigindo-se rapidamente até a sessão de rock alternativo.

Eu voltei ao caixa e fiquei seguindo-a com os olhos.
Ela era bem bonita e parecia indecisa com relação a qual disco levar.
Eu nem havia notado que a música anterior tinha chegado ao fim, e eu tinha de escolher outra, porque não é normal uma loja de discos não tocar discos. Mas eu não tive tempo, pois a garota chegou ao balcão com um sorriso enorme.

- Jet? - eu soltei uma breve risada, como se entendesse muito de música.
- Sim - ela fechou o rosto - há algum problema nisso?
- Não, me desculpa - eu me concentrei em pegar o dinheiro e colocar o disco numa sacola de plástico - aqui está o seu troco, tenha uma boa tarde.
Ela então saiu da loja e foi embora.

Eu pensei que a garota nunca mais fosse aparecer, mas na semana seguinte ela foi até a loja e escolheu um disco do The Vines.

- Não vai rir? - ela perguntou quando estava quase saindo da loja.
- Não - eu respondi constrangido.
- Que bom, porque não era eu quem estava na sessão de música brega - sorriu e foi embora.

"Música brega?!", eu pensei, olhando na direção de onde eu estava dias antes quando queria ficar na frente do ar condicionado. E notei que acidentalmente eu segurava um disco do Reginaldo Rossi.






(quer saber como eles ficaram depois? clique aqui ;p)

12 de fevereiro de 2012

Mocinha dos sapatos azuis.



Eu me sentei no banco do ônibus sem nem olhar para quem estava ao meu lado. Pus minha maleta no colo e passei as mãos no rosto. Voltava do trabalho. Horas e horas no banco. Queria mudar de emprego, algum dia encontraria algo melhor. Algum dia... Olhei meus sapatos, estes precisavam de água, de um pouco de graxa, eram pretos mas estavam cinzas. Decerto pisei em alguma lama. Definitivamente limparia meus sapatos ao chegar em casa. Respirei fundo, fazendo barulho com o nariz. O chão metálico do ônibus também estava sujo, havia chiclete velho colado ali, e outras coisas que não podiam ser identificadas. Também precisava ser limpo. As companhias de ônibus não mandam lavá-los? Ora, mas do que me importa?
Eu continuava com os olhos parados num ponto do chão metálico, tentando pensar em alguma coisa que não fosse relacionada à minha vida patética. Pensei no preço da gasolina, na greve da polícia, num letreiro que vi antes de entrar no ônibus. As crianças de hoje não estudam? E eu? Eu ainda era jovem, podia arranjar um emprego melhor. Eu podia...
Ah! Algo interrompeu meus pensamentos, senti uma dor na perna que me arrancou uma expressão que me fechou todo o rosto. Abaixei os olhos e vi um pé ao lado do meu calçando um sapatinho azul-marinho, e quando subi meu rosto, ouvi uma vozinha pedindo desculpas.
Era uma garota de olhos bem negros e grandes, daqueles que leem a alma. Ela era toda olhos, e eu não conseguia enxergar mais nada além daquele par de órbitas.
Eu estava desconcertado, como se estivesse nu em local público, e dirigi meu olhar para o outro canto do ônibus, embora conseguisse enxergá-la pela minha visão periférica.
A mocinha se meteu num livro que apoiava no colo e dali não tirou mais o nariz.
O ônibus balançava e seu corpinho também, quase caindo do assento, esbarrando seu ombro no meu a todo instante.
Não pude ver qual era o livro, pois meus óculos estavam na maleta, mas ouvi que ela dava pequenas risadas.
Lá fora os carros buzinavam e lá dentro as pessoas faziam um barulho terrível, e mesmo assim a mocinha não tirava o rosto do livro, continuava enfunada naquele amontoado de papel.
Eu foquei meus olhos em seus sapatinhos azuis. Qual deveria ser o nome dela?
A essa hora um idoso se aproximou, eu fingi que dormia para não sair do lado dela e ter de dar o lugar ao velho, mas antes que eu pudesse simular meu sono, vi a mocinha se levantar, quase pisando em meu pé novamente, mas esbarrando em meu joelho, e dando o lugar ao senhor.
Ela tinha cheiro de chocolate e carregava uma mochila rosa no ombro direito.
Quando olhei para trás, só tive tempo de vê-la descer do ônibus, deixando sem querer o livro pender dum bolso e cair no chão metálico.

5 de fevereiro de 2012

Alguns dos livros que eu quero ler.


A maioria dos livros que eu quero ler são antigos (minha estante no skoob), então vou divulgar alguns nacionais e novos que já entraram na minha lista!


Hugo e Elisa e a Fuga de Madame Hornick.
Autora: Anna Chiara
Onde comprar
Sinopse: Mistério e suspense em Londres. A única alternativa é solucionar o caso. Hugo Forsyth e Elisa Adams são dois jovens detetives que trabalham para a Empresa de Investigações Super Kings. Quando tomam conhecimento da fuga de Madame Hornick, a dupla decide investigar o fato de forma incansável, buscando por informações que gradativamente os levem a alguma pista. Com persistência e vontade de fazer justiça, Hugo e Elisa passam por momentos de tirar o fôlego e por fortes emoções até chegar à reta final desse mistério.




Anestésico, Por Favor.
Autor: Guilherme Hotto 
Onde comprar
Sinopse: A reunião de histórias sublocadas de amores da boêmia. Onde amores suburbanos, amores líticos, amores desgraçados, burgueses, malditos, amor descortês, amores inventados encontram amores que percebem os tratos da alma. Amores anestesiados.


Sala de Embarque.
Autor: Marcos Mantovani
Onde comprar
Sinopse: "Atenção, senhores passageiros: nesta Sala de Embarque, qualquer das partidas (crônicas) leva a uma viagem deveras inebriante. A decolagem está autorizada a quem interessar adquirir uma preciosa experiência literária, em que as travessias propostas por Mantovani deságuam em uma bagagem de excesso gratificante. Um volume maior de própria vida, adquirido nas rotas de cultura, arte e comportamento tão bem conjugadas e traduzidas pelo autor. Com referências de mundo absolutamente oportunas, e feeling em máximo estado de alerta, perspicácia e poesia para singelos eventos cotidianos, o desfecho de cada texto incrusta na alma do leitor o sentimento de que viver é mesmo uma viagem. Um percurso que nos cabe realizar (diferente do que rege a tradicional cartilha) com os cintos rigorosamente soltos. Vocês não poderiam embarcar numa melhor!" Dudu Oltramari, cronista. 




Assombros Urbanos.
Autor: Dionisio Jacob
Onde comprar
Sinopse: O personagem central do romance de Dionisio Jacob é um sujeito indeciso, sem vocação para o sucesso. Lima, o protagonista de 'Assombros Urbanos', define-se como aquele que sempre chega depois que a festa acabou. Foi ator de teatro de vanguarda na década de 70 - quando levava "duas horas para atravessar, completamente nu, um pequeno palco de seis metros" -, fez terapia do grito primal, morou em comunidade hippie, foi ator de comerciais e acabou como apresentador de Assombros na madrugada, programa de TV que vai ao ar às duas da manhã .Para azar de Lima, porém, o programa que ele apresenta começa a fazer sucesso e se torna um fenômeno de audiência, causando uma série de transtornos em sua vida. Num texto leve, marcado pelo humor, Dionisio Jacob satiriza o pequeno mundo das celebridades, do sucesso fácil e das veleidades da sociedade brasileira de hoje.

4 de fevereiro de 2012

Socorro, outro colégio!


Eu tirei essa foto e nem imaginava a utilidade que seria ao pegar a câmera e fotografar o meu ex-assento na minha ex-escola (e isso parece tão surreal), quando a aula ainda não havia começado.
Programava para um post "de volta às aulas", mas agora eu só poderei ver a sala através dessa foto.

O caso é que até antes de ontem o meu caminho escolar estava traçado, mas tudo mudou quando minha mãe recebeu um telefonema de um tenente (ou era coronel?) dizendo que eu podia fazer minha matrícula no colégio X (se eu falar o nome aqui, podem me sequestrar .-.). Minha mãe aceitou sem pensar duas vezes, é claro, esse colégio é uma maravilha e não entra qualquer pessoa.
Então naquela mesma manhã tivemos de passar uma borracha e organizar tudo de novo. Ontem minha matrícula foi feita e é definitivo: vou mudar de colégio.
Claro que não é preciso tanto alarde, mas é que acontecer isso de uma hora para a outra é meio assustador.

Fiquei bastante feliz, até porque vou entrar num colégio que dá valor aos bons alunos, diferente do anterior. Mas sentirei muita falta dos meus professores, e de meus amigos. Estou saindo da minha zona de conforto e entrando em outro mundo, depois de quase três anos seguindo as mesmas regras e olhando os mesmos rostos.

Segunda-feira as aulas começam e eu estou muito ansiosa, tomara que eu consiga lidar com essa nova rotina!

1 de fevereiro de 2012

Meus queridos zumbis!


Eu tentava afinco prender as trancas na porta que parecia quebrada. Sete trincos enormes numa porta fraca de madeira.
Precisava ser rápida e não queria explicações, não naquele momento.
Fora do prédio escolar (e não me pergunte que prédio era aquele) as pessoas corriam desesperadas e ensaguentadas, e não sei se eram bem pessoas.
A coordenadora do colégio (aquela mulher feia de cabelo de fogo) não me deixava fechar os trincos, e me obrigou a abrir a porta. Feito isso, quando eu a abri, havia um morto-vivo lá fora olhando-me furiosamente, mas uma tela de arame o detinha.

Parecia ser um ringue (um pouco parecido com aquele filme do Tarantino), e a mulher de cabelos de fogo jogava lá dentro os alunos que não se juntavam à ela.
Eu estava com medo porque um menino me olhava e isso significava que eu estava na lista, talvez fosse a próxima.

Éramos obrigados a passar perto do ringue na hora do intervalo, passávamos por um corredor estreito, e se não tomássemos cuidado, poderíamos ser pegos pelos braços e PAAM, comidos.

Eu tramava um plano pra fugir dali, mas não possuia armas, nem um mapa, nem um lugar seguro para ir, nem companheiros.

China Anne McClain (e não me pergunte o motivo de ela estar lá) era uma aluna e portava uma metralhadora gigantesca enquanto jogava sinuca. Eu me aproximava e cochichava sobre uma possível fuga. E ela me questionava o porquê de sair de lá, se tínhamos água, comida e tudo que precisávamos.
Então no mesmo momento a coordenadora de cabelos de fogo jogou um menino no ringue, e se ele não tivesse corrido a tempo até o limite, estaria morto.
China me olhou assustada, ela já estava do meu lado.

Mas não chegamos a sair de lá.
O mundo inteiro parecia estar contaminado, de modo que nem pelo mar, nem pela terra e nem pelo ar poderíamos fugir.
Eles eram rápidos e não sentiam cansaço.

China se afastou de mim quando a mulher apareceu fitando-me com aqueles olhos enrugados, agora eu também precisava de uma metralhadora.


(certo, isso foi parte de um pesadelo que eu tive, onde acordei tremendo e chamando pela minha mãe)
© Bruna Morgan | Todos os direitos reservados.
Desenvolvimento por: Colorindo Design | Tecnologia do Blogger.