11 de abril de 2012

Os peixes do rio


Berenice sempre me perguntava o motivo de eu passar tantas noites escrevendo sem dar sequer uma pausa, e porque eu teimava em pegar do armário a minha velha máquina de escrever, constatando todos os dias que ela já havia perdido sua tinta, e que atualmente a mesma não se fabrica mais.
Uma vez eu finalmente disse à Berenice que há um rio dentro de mim. A água é densa, e lá dentro há monstros grandes e feios que vivem submersos junto com os peixes.
Berenice perguntou se os peixes são dourados, mas eu respondi que não, os peixes não são dourados, eles são vermelhos com pintinhas verdes e sabem voar. Voar?! Ela me perguntou sobressaltada. Sim, eu respondi, as nadadeiras são as suas asas, e eles nadam pelo rio denso, fazendo força para voar, porque aquela água é pegajosa e preta, não dá para enxergar nada lá embaixo.
E como eles vivem? Ela me perguntou. Ora, eu respondi, eles morrem, minha Berenice, oh! não chore. É culpa dos monstros, eles precisam se alimentar... E quando eu escrevo, esses monstros se transformam em histórias. Quando um monstro é muito mau, a história fica boa e vira comédia, ou vira romance, as coisas são desse jeito no rio, os peixes demoram a nascer, e nessas horas eu penso em desistir de tudo, de fugir e de tentar secar o rio de alguma maneira, pois eu não consigo dar conta disso, menina.
Mas agora você não sente mais vontade de fugir, certo? Berenice perguntou. Não, eu respondi, agora eu tenho você, minha querida.
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